domingo, 25 de outubro de 2009

Bonzolândia





Subindo a rua dos trilhos do bonde, em Santa Teresa, um carro encosta: "Bom dia, onde fica a rua tal?" Getúlio nem levanta os olhos e responde com aquele sotaque indiscutivelmente carioca: "Pode seguir reto, é logo em frente". Depois vira pra gente e comenta meio sorrindo meio contrariado "É o dia todo assim".
Enquanto conversa corta uma tábua, martela umas peças, e em cinco minutos apresenta sua nova criação: "Não ta parecendo um rosto?"
O Ateliê Chamego Bonzolândia é um pequeno bondinho povoado de criaturas, todas com nome e história, surgidas de lixo. Getúlio brinca e inventa figuras de potes, embalagens, velhos eletrônicos. Trouxe comigo a Dorotéia, cara de disquete e vestido de Seda.

Agradecimentos à Talita, querida que me recebeu em Santa, e ao Getúlio que ainda por cima me vendeu fiado.

fotos: Laila Loddi e Talita Matos.

Casa da Flôr







Singeleza e delicadeza, disponibilidade de uma vida inteira catando caquinhos. Pedaços de azulejos, de telhas, de pratos recolhidos por negras mãos alquimistas, transformados em flores. Lâmpadas queimadas são abajur.
Gabriel Joaquim dos Santos passou a vida decorando e curtindo a Casa da Flôr. 1892-1985. Em São Pedro da Aldeia, estado do Rio de Janeiro, região dos Lagos. Sem estudo, sem dinheiro e sem muita fé do pessoal que via essa casa muito engraçada. "Não deve bater muito bem..." E batia tão bem que já previa "essa casa vai virar história"...
Salve Gabriel!
Agradeço seu Valdevir, sobrinho-neto de seu Gabriel, pela prosa, pela paciência e pelo caldo de cana. Saí de lá com o coração maior.

fotos: Laila Loddi
pra mergulhar: http://www.casadaflor.org.br